Com o propósito de destacar e celebrar mulheres cujas jornadas têm gerado impactos positivos tanto na vida de outras mulheres quanto na sociedade em geral, foi realizado na terça-feira (26) o evento Mulheres de Impacto. Promovida pelo Parque Social em parceria com a Prefeitura, a segunda edição do evento trouxe para o diálogo, realizado no auditório da instituição, no Parque da Cidade (Itaigara), cinco mulheres notórias com diferentes campos de atuação.
Participaram da roda de conversa a professora de boxe para mulheres cis e público LGBTQIAPN+, Aline Silva; a gestora da Escola Comunitária Criança Esperança em Santo Inácio, Elizabete Mendonça; a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda (Semdec), Mila Paes; a coordenadora e produtora artística do Afoxé Filhas de Gandhi, Silvana Magda; e a presidente da Associação Baiana dos Deficientes Físicos (Abadef), Silvanete Brandão. O evento teve mediação da jornalista Andréa Silva.
Durante a palestra, Silvana Magda reforçou a importância de combater o etarismo e das mulheres se manterem ativas e realizadoras em todas as fases da vida. “Um evento desse proporciona que as mulheres possam se conhecer melhor e buscar por grupos de apoio. É importante que, através desses eventos, elas possam se integrar. A atividade não é só para jovens, mas também para mulheres acima de 50 anos que já têm firmeza na vida, objetivo definido, e aqui vão ter novas ideias para se adaptarem à nova era”, contou.
A titular da Semdec destacou que eventos como esse tem como principal objetivo inspirar outras mulheres a fim de promover mudanças significativas no mundo. ”É sempre importante celebrar as mulheres que se destacam, cada uma no seu universo de atuação. Acho que momentos como esses, que reúnem mulheres tão fortes, com histórias de vida tão diferentes e, ao mesmo tempo, parecidas, são relevantes para mostrar a outras mulheres até onde a gente pode chegar”, afirmou Mila Paes.
A assistente social Reginalda Sousa dos Reis, 46 anos, é coordenadora de uma das unidades do projeto Convivendo e Aprendendo do Parque Social, que atende 850 pessoas entre crianças, jovens e idosos com atividades socioeducativas e culturais em cinco bairros populosos de Salvador. Ela esteve no evento para absorver novos conhecimentos e também para acompanhar mulheres assistidas pelo projeto nesse momento de troca de experiências.
Reginalda acredita que é importante mostrar para o público feminino que nunca é tarde para mudar a rota, desenvolver novas habilidades ou sonhos e despertar novos interesses na vida. “É um momento de partilha e trouxe algumas beneficiárias porque é importante conhecer a história das mulheres convidadas e o impacto das suas histórias, além de ser uma forma de motivar outras mulheres, fortalecê-las, falar de questões de gênero e construir novos caminhos”, detalhou.
Reportagem: Joice Pinho/Secom PMS
Com a proximidade dos festejos da Semana Santa, o movimento começa a aumentar nas feiras e mercados municipais devido à procura pelos ingredientes típicos para o preparo das comidas, a exemplo de leite de coco, azeite de dendê, quiabo e peixes. Nesta quarta-feira (27), no Núcleo de Abastecimento e Serviços (Nacs) de Itapuã, na Avenida Dorival Caymmi, o movimento tinha “engarrafamento de gente” entre os boxes.
Feirante há mais de uma década, Lucia Vilas Boas está confiante nas vendas. “Já tem uma boa saída de camarão seco, azeite, leite de coco e os peixes secos que eu vendo: miraguaia, bacalhau e bagre”.
Ela também elogiou a iniciativa da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), gestora das feiras e mercados, na entrega de aventais aos permissionários. “Gostei da novidade, achei interessante com certeza, é sinal que eles se importam com o mercado, sou muito grata”.
Com o box cheio, a vendedora de peixes e mariscos Joanice de Jesus Santos era só sorrisos. “O movimento está maravilhoso, ótimo. A procura tem sido grande, muita saída de pescada amarela, camarão e corvina. Não subi muito o preço, tentei manter para garantir o almoço dos clientes”.
Com sua banca de frutas e verduras bem diversa, Luzineide Santos também comemorava o fluxo no mercado. “Hoje está melhor, graças a Deus, a tendência é aumentar mais o movimento com os clientes de última hora. Tenho vendido muito azeite, quiabo, castanha, ingredientes típicos da comida baiana. Hoje e amanhã temos horário estendido, aí a galera vem, com certeza”.
A gastrônoma Nai Virgens, de 33 anos, sempre compra produtos no Nacs de Itapuã. “Já garanti aqui os produtos para a Semana Santa e eu gosto da qualidade da feira. Toda sexta-feira eu estou aqui comprando frutas, verduras, e mariscos também”.
Para a Semana Santa, a Semop ampliou o horário de funcionamento das feiras e mercados municipais. Além do Viradão do Mercado do Peixe (Água de Meninos), que abrirá às 3h da quinta-feira (28) e manterá o expediente até as 14h da Sexta-feira Santa (29), o Nacs Itapuã e os mercados de Itapuã e Periperi funcionam das 6h às 18h, na quinta-feira, e das 6h às 13h, na sexta-feira. Já na Feira do Japão (Liberdade), o horário fica a cargo dos permissionários.
Reportagem: Ana Virginia Vilalva/Secom PMS
Devido ao feriadão da Semana Santa em Salvador, as repartições públicas municipais terão o atendimento suspenso a partir desta quinta-feira (28), retornando as atividades normalmente na segunda-feira (1º). No entanto, os serviços essenciais da Prefeitura estarão em funcionamento durante todo o período, em esquema de plantão. Confira:
Trânsito – Os agentes da Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) estarão em atividade nas ruas, garantindo o fluxo adequado de veículos e pedestres e prontos para intervir em casos de obstruções e outras ocorrências no trânsito. O Núcleo de Operação Assistida (NOA) estará monitorando o tráfego 24 horas por dia, fornecendo suporte às equipes em campo. As blitze de Lei Seca também serão realizadas durante esse período.
Já os setores de atendimento ao público, responsáveis por serviços como defesa, recursos e credenciais especiais, não estarão operando a partir da quinta-feira (28), retornando ao funcionamento normal na segunda-feira (1°). Quanto aos setores de liberação de veículos custodiados, eles funcionarão normalmente na quinta-feira (das 9h às 17h) e no sábado (das 9h às 12h e das 14h às 16h), não realizando atendimentos na sexta-feira (29). Para contatar a Transalvador, o cidadão pode utilizar o aplicativo NOA Cidadão ou ligar para o Fala Salvador, no número 156.
Transporte – A Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) realizará ajustes nos horários de operação dos elevadores e planos inclinados da cidade. O Elevador Lacerda funcionará das 6h às 23h na quinta-feira (28), e nos demais dias da Semana Santa, das 7h às 22h. Os planos inclinados de Gonçalves e Liberdade/Calçada operarão na quinta-feira, respectivamente, das 7h às 18h e das 6h às 18h30, e no sábado (30), ambos das 7h às 13h.
O Elevador do Taboão e o Plano Inclinado Pilar funcionarão apenas na quinta-feira, nos horários de 7h15 às 17h15 e das 7h às 17h30, respectivamente. Por fim, a travessia Ribeira-Plataforma funcionará normalmente das 7h às 19h, com exceção do sábado (30), que funcionará das 6h às 19h.
Saúde – Todas as unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Emergência (PAs) municipais, as Upinhas Barris, Itapuã e Paripe/Periperi e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) funcionarão 24 horas, de forma ininterrupta. Já o Saúde nos Bairros em Mussurunga I e Pirajá não abrirão na sexta (29) e no sábado (30), retornando às atividades na segunda-feira (1º), das 7h às 17h.
Defesa Civil – A Codesal funciona ininterruptamente, em regime de plantão 24 horas, para atender às solicitações da população. Em caso de emergência, como riscos de deslizamentos, alagamentos, desabamentos ou qualquer outra situação de perigo, a população deve entrar em contato, de forma gratuita, pelo telefone 199.
Guarda Civil Municipal – A instituição continuará operando regularmente todos os dias, mantendo suas atividades de patrulhamento preventivo pela cidade, protegendo os equipamentos públicos e prestando apoio aos órgãos públicos conforme necessário.
Limpeza – A Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) segue com os todos os seus serviços de coleta de resíduos durante o feriadão.
Salvamar – A Coordenadoria de Salvamento Marítimo (Salvamar) estará com agentes atuando nos postos situados no trecho entre as praias de Jardim de Alah e Ipitanga (próximo ao kartódromo). Em caso de emergência, além do contato direto com os profissionais nas praias, o serviço pode ser acionado através do número (71) 3202-4970. Já nas demais praias fora do trecho entre Jardim de Alah e Ipitanga, o contato deverá ser feito com o Grupamento Marítimo (Gmar), do Corpo de Bombeiros, pelo número 193.
Atendimento às mulheres – A Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), o Centro de Atendimento à Mulher Soteropolitana Irmã Dulce (Camsid) e a Casa da Mulher Brasileira funcionam normalmente para prestar apoio, acolhimento e orientação às mulheres que vivenciam situações de violência ou que necessitam de assistência em questões relacionadas à saúde, emprego e direitos. Em caso de necessidade, as mulheres podem procurar esses locais para receberem o suporte necessário. As orientações também podem ser obtidas através do Fala Salvador, no número 156.
Parques e Hospital Veterinário – A Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Resiliência, Bem-estar e Proteção Animal (Secis) assegura o funcionamento normal do recém-inaugurado Hospital Veterinário, assim como dos parques da cidade, de quinta a domingo. No entanto, exceções são aplicadas ao Viveiro de Restinga e ao Jardim Botânico, com este último abrindo somente no sábado, das 8h às 14h.
A população pode aproveitar o feriadão no Parque dos Ventos (Boca do Rio), das 5h às 20h; no Parque dos Dinossauros (Stiep), na sexta (29) e sábado (30), das 6h às 17h; no Parque da Cidade (Itaigara), na sexta e domingo, das 5h às 19h, e sábado, das 5h às 22h.
Manutenção – Os serviços operacionais de manutenção de áreas verdes, sistema de drenagem e malha viária (Operação Tapa Buracos) realizados pela Secretaria de Manutenção da Cidade (Seman) serão suspensos apenas no feriado (29), retomando a programação normal nos outros dias do período, com equipes em plantão inclusive no sábado e domingo. Já a Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal) estará em regime de plantão de quinta-feira a domingo, para andamento de obras em praças de toda a cidade.
Atendimento Digital – Durante o feriado, a Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia (Semit) estará disponível para oferecer suporte técnico aos serviços prestados ao cidadão, tais como a plataforma Salvador Digital (www.salvadordigital.salvador.ba.gov.br), bem como outros sites e sistemas.
Para celebrar o aniversário da primeira capital do Brasil, que completa 475 anos nesta sexta-feira (29), as crianças e adolescentes assistidas nas unidades da Fundação Cidade Mãe (FCM) produziram obras que dão vida à exposição “Um Laço de Amor da FCM por Salvador”, aberta nesta quarta-feira (27). Os trabalhos artísticos podem ser apreciados na galeria da sede do órgão que fica localizada no Engenho Velho de Brotas, das 9h às 16h, de segunda a sexta-feira (exceto feriados).
Os desenhos, colagens, pinturas e esculturas foram confeccionados por educandos integrantes das oficinas lúdico-pedagógicas desenvolvidas nos seis Centros de Convivência Socioassistencial (CCSs), espalhados em bairros periféricos da capital baiana. Todo ano a instituição, que pertence à Secretaria de Política para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), propõe temas para celebrar a comemoração por Salvador, dentro de uma perspectiva pedagógica, no que tange as artes visuais, potencializando o universo cultural trazido pela percepção dos artistas.
Enquanto organizava as obras, o curador da exposição, o educador de Artes Visuais da FCM, Gilson Cardoso, comentava orgulhoso sobre o trabalho desenvolvido pelos alunos. “Me sinto feliz e realizado em saber que a arte e cultura têm transformado as vidas das crianças e adolescentes que atendemos aqui”, diz ele, enquanto aponta para quadros feitos por jovens egressos da FCM, hoje estudantes da Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
O artista explica que o tema da exposição em homenagem à capital baiana foi pensado com objetivo de despertar na garotada e nos jovens o sentimento de pertencimento com relação a cidade onde vivem. “No aniversário de Salvador que presente nós podemos dar a nossa cidade? Eles produziram pinturas, telas com declarações, esculturas e desenhos que falam sobre a cidade e como cuidar dela”, explica.
Função social – Para a gerente de Proteção Social Básica da FCM, Eliane Braz, a arte tem a função social importante de apontar as mazelas, a partir da concepção de mundo do artista, que reproduz seu olhar imprimindo na obra sua sensibilidade e criatividade. “Desenvolvendo essas habilidades, o aluno ganha liberdade e segurança para enfrentar diversas situações da vida”, pontua.
Além da exposição, os jovens também produziram um espetáculo de dança que foi apresentado aos colaboradores da FCM, nesta quarta-feira (27). Assistida pela FCM há três anos, a adolescente Luara Estrela, 15 anos, integra a oficina de dança desenvolvida pela professora, Verônica Oliveira, 60 anos. Enquanto se preparava para apresentar o espetáculo musicado pela canção de Luiz Caldas, “Muito prazer, meu nome é Salvador”, a adolescente falou sobre a sensação de se apresentar ao público.
“Meu Deus é um negócio que não sei explicar, é mágico para mim. Às vezes vem aquela vontade de chorar seguida daquela alegria. Eu amo a dança, e a Fundação me ajudar a viver isso. Criei um amor enorme pelas pessoas daqui, aqui dentro eu me sinto em casa, fico leve. Minha vida mudou desde quando cheguei aqui”, disse, visivelmente emocionada.
Formação cidadã – A Fundação Cidade Mãe atua na execução das políticas públicas de proteção social básica, com foco na prevenção à violação de direitos de crianças, adolescentes e jovens, na faixa etária entre 7 e 18 anos incompletos, que possuem referência familiar, encontram-se matriculados na rede formal de ensino público, mas vivenciam uma situação de vulnerabilidade social. Há 28 anos, a instituição desenvolve um trabalho que abraça as artes visuais não com o propósito de formar artista, mas cidadãos, visto que a arte é um veículo da cidadania capaz de despertar nos educandos o potencial artístico.
Todos os estudantes da Rede Municipal de Ensino vão receber chocolates nesta quinta-feira (27) em mais um ano do projeto Páscoa na Escola, que é realizado pela Prefeitura de Salvador. O evento simbólico de entrega ocorreu na Escola Municipal Anita Barbuda, no Nordeste de Amaralina, que foi inaugurada em fevereiro deste ano, e contou com a presença do prefeito Bruno Reis e do secretário da Educação (Smed), Thiago Dantas.
Ao longo do dia, serão distribuídos mais de 150 mil ovos de Páscoa e caixas de chocolate. Este é o segundo ano da ação, que foi ampliada e agora vai presentear também professores e outros profissionais da Rede Municipal de Ensino. Todos os segmentos da educação serão contemplados: Infantil, Fundamental Anos Iniciais e Anos Finais e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
O prefeito Bruno Reis destacou que o projeto é simples, mas de enorme significado para as famílias: “É uma ação que tem um simbolismo muito grande, principalmente para as crianças. A expectativa da chegada da Páscoa para elas é muito grande, de poder ganhar um ovo de chocolate. A gente sabe das dificuldades que mães e pais passam de poder, com o seu salário, comprar um presente desses, principalmente aquelas famílias que têm muitos filhos. Então a Prefeitura vem para ajudar com isso. É um ato simples, mas muito importante para as crianças e suas famílias”, disse.
As 415 unidades municipais de ensino serão contempladas com a ação. Na Anita Barbuda, foram beneficiados 325 alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I. No ano passado, o projeto Páscoa na Escola foi lançado no Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Luís Eduardo Magalhães, na Avenida Bonocô.
Como lembra Thiago Dantas, a ação é resultado da escuta nas escolas, com o objetivo de garantir que milhares de crianças tenham uma Páscoa feliz e cheia de significados. “É realmente algo que nos toca e que a gente consegue perceber claramente que, através dessa ação, a Prefeitura consegue assegurar que elas tenham uma Páscoa em casa, com a família, com alegria e felicidade”, disse.
“O prefeito Bruno Reis determinou que fosse feita essa ação no ano passado e foi um grande sucesso. Neste ano, realizamos de novo, mas agora ampliada, abrangendo não só os alunos de todos segmentos, mas também educadores. É um momento de confraternização. A Semana Santa e a Páscoa são momentos simbólicos do ano e nada melhor do que reunir todos os alunos das escolas para celebrar em conjunto”, completou Thiago Dantas.
Moradora do Nordeste, Gabriela Lisboa Santos, 38 anos, tem duas filhas matriculadas na Anita Barbuda. A mãe está desempregada e disse que o presente vai ajudar muito. “Achei maravilhosa a iniciativa. As crianças gostam muito. Quando se fala de ovo de Páscoa e de chocolate elas ficam felizes. Vou poder economizar dinheiro com isso, então está ótimo. Não vou precisar comprar mais nada para elas”, afirmou.
Junto aos ovos de Páscoa e dos chocolates, a Prefeitura também entregou os pares de tênis aos alunos da Rede Municipal de Ensino. Neste ano, todas as crianças matriculadas receberão um kit escolar completo, que conta ainda com mochila, estojo, lápis e outros materiais escolares.
“Anunciamos também a antecipação do salário do mês de março a todos os servidores da Prefeitura. Então hoje todo mundo já pode sacar o seu salário para poder ter uma Semana Santa com mais harmonia, mais tranquilidade e honrar os seus compromissos”, disse Bruno Reis.
Reportagem: Thiago Souza e Vitor Villar / Secom PMS
Salvador, ainda no processo de formação como primeira capital do Brasil, avançou sobre o mar da Baía de Todos-os-Santos – chamado de Kirimurê pelos índios tupinambás, habitantes da localidade antes da chegada dos portugueses – e ampliou sem precedentes o território natural que até então existia após uma série de aterros ocorridos no que hoje é o bairro do Comércio. Pode até não parecer, mas percorrer essa mesma área no século XVI era inviável a pé.
Isso porque, no início, praticamente tudo era água. Apenas uma modesta faixa de terra seguia paralelamente à encosta que divide as Cidades Alta e Baixa, denominado de Bairro da Praia. Se o nível superior viria a abrigar o centro administrativo, religioso e habitacional, o inferior seria o local ideal para construção de um porto. As instalações serviriam para que os portugueses mantivessem tanto fluxo de viagens com Lisboa quanto posteriormente para o tráfico de escravizados trazidos da África, além de dar suporte à chegada de mercadorias e manutenção de embarcações.
“O Bairro da Praia era muito estreito. Mas, desde o início, os comerciantes perceberam que era interessante ocupar esse território ao mar. Portanto, começa ainda no século XVI, nos primeiros 80 anos de ocupação da cidade, a ter pequenos aterros para abrigar trapiches e armazéns com atracadouros, onde os barcos paravam e descarregavam mercadorias”, explica Nivaldo Andrade, doutor em Arquitetura e Urbanismo e curador de uma mostra sobre o assunto na Casa das Histórias de Salvador.
A primeira ocupação no local corresponde atualmente ao trecho da Conceição da Praia, com a construção da alfândega, armazéns e ferrarias, além de oficinas para a construção de navios, que se constituiria em importante atividade nesta área durante alguns séculos.
Ali também seriam erguidos em sequência a ermida de Nossa Senhora da Conceição da Praia e dois baluartes para defesa da parte baixa da cidade: um no local onde hoje é o 2º Distrito Naval e outro ao pé da Ladeira da Preguiça, o que demonstrava a preocupação com a segurança mesmo antes da ocupação do território de fato.
Na tese de mestrado em Ciências Sociais, de 1988, o arquiteto Marcus Paraguassu propõe a existência de oito ciclos de avanços de terra sobre o mar da Baía de Todos-os-Santos a partir de 1550 - ano seguinte à fundação de Salvador pelo governador-geral Tomé de Sousa – até 1920, que provocaram sucessivas transformações urbanas no lugar que se tornaria o principal centro econômico.
Os primeiros aterros eram privados e visavam a exploração comercial. Contudo, até o século XIX, o porto da cidade não era organizado, mesmo sendo o mais importante do Atlântico Sul no mundo.
Primeiras soluções de mobilidade
Com o início da ocupação do Bairro da Praia, um dos problemas era encontrar meios que pudessem viabilizar o deslocamento da população e o vai e vem de mercadorias entre as Cidades Alta e Baixa, que são separadas por uma falha geológica de aproximadamente 60 metros de altura.
Neste cenário, a solução pensada e executada de forma imediata envolveu a construção de três ladeiras: as da Conceição, Preguiça e Misericórdia. Ao completar um século de sua fundação, em 1649, a primeira capital do Brasil já contava com algumas outras ligações, como a Ladeira do Taboão.
Além da abertura desses caminhos, novas ideias surgiram para viabilizar o transporte de carregamentos entre o porto (Cidade Baixa) e a sede administrativa (Cidade Alta) com a construção dos primeiros ascensores, conhecidos como guindastes e que eram, na verdade, planos inclinados administrados por religiosos de diversas ordens. Um dos principais equipamentos a entrar em funcionamento foi o Guindaste dos Padres, da Companhia de Jesus, por volta de 1610, que ficava na atual área do Plano Inclinado Gonçalves.
Outros guindastes viriam a surgir durante o período colonial e império, com os beneditinos, carmelitas e dos terésios. No final do século XVII, estima-se que Salvador tinha pelo menos seis ascensores deste tipo em funcionamento.
O Comércio ainda seria modelo para outros aterros que viriam a acontecer ainda na Cidade Baixa - a Península de Itapagipe sofreu intervenções similares e até de maiores proporções. A recém-nascida área de negócios, inclusive, chegou a abrigar mais obras em execução do que a Cidade Alta em alguns momentos, sendo ainda local da vanguarda arquitetônica com construções como a sede da Associação Comercial, no início do século XIX, marco da arquitetura neoclássica; ou o Instituto do Cacau, nos anos 1930, um dos mais importantes exemplares da arquitetura moderna na Bahia.
Território em expansão
A partir do planejamento de expansão de território, o trecho entre as igrejas de Nossa Senhora da Conceição e a do Pilar começou a ser tomado por edificações destinadas ao armazenamento de mercadorias e ao comércio. A ocupação do então Bairro da Praia ampliou-se consideravelmente, mas apenas de forma linear e paralelo à escarpa sem seguir pelo mar afora.
Durante os séculos XVI, XVII e XVIII foram realizados inúmeros pequenos aterros, por ordens religiosas e particulares interessados em ganhar área para armazenagem de mercadorias e, principalmente, pelo poder administrativo local. O ritmo mais acelerado dessas intervenções ocorre somente a partir do século XIX e, principalmente, no século XX, quando o bairro comercial assumiu os contornos atuais a partir de uma iniciativa do poder público.
Diferente do famoso mito grego da Atlântida que foi engolida pelo oceano, o Comércio surgiu sobre o mar da Baía de Todos-os-Santos a partir de diversas intervenções humanas acumuladas durante séculos, em épocas pelas quais as questões ambientais não eram tão levadas tão a sério quanto hoje. Embora Salvador tenha deixado de ser capital do Brasil a partir de 1763 - posto assumido pelo Rio de Janeiro -, a cidade ainda mantinha posição privilegiada no país em relação às atividades de importação e exportação.
Entre 1810 e 1822, o governador D. Marcos Noronha e Brito, o 8º Conde dos Arcos, considerou indispensável melhorar as condições do porto, cujo terreno àquela altura tinha extensão entre a Alfândega (atual área do Mercado Modelo) até a Associação Comercial. A ideia era construir de forma mais adequada um cais de atracação, com uma ampla rua à sua margem, repleta de edifícios que tivessem grandes gabaritos e que se destacassem pela qualidade de sua construção e arquitetura. Isso serviria de cartão de visita a quem chegasse a Salvador.
“No final do século XIX, o porto ainda era extremamente fragmentado, formado por uma série de cais particulares e com uma linha de costa extremamente irregular. Pelo menos 14 projetos de ampliação foram elaborados sem que nenhum deles viesse a sair do papel ao longo desse período. Em 1891, contudo, o Governo Federal da República recém-instalada autoriza a construção de docas no porto de Salvador, bem como a construção de um imenso aterro que faria surgir sobre o mar uma área quase três vezes maior que o bairro até então existente”, acrescenta Andrade.
O feito teria como protagonista o político baiano Joaquim José Seabra. Ele ocupou o Ministério do Interior e da Justiça (1902-1906, na presidência de Rodrigues Alves) e o Ministério da Viação e Obras Públicas (1910-1912, na presidência do Marechal Hermes da Fonseca), além de assumir o Governo do Estado da Bahia em duas gestões (1912-1916 e 1920-1924).
O grande aterro
Sob a batuta de Seabra, a partir de 1906, teve início o processo de maior aterro sobre a baía, saindo mais ou menos do limite onde fica hoje a Rua Miguel Calmon até o atual Porto de Salvador, na Avenida da França. A ampliação deu origem ao parque das nações - daí o porquê o nome das novas vias construídas à época terem nomes de países.
A partir da década de 1920, a região ganhou seu maior aterro, muito superior a todos os anteriores, o que rompeu com a dinâmica próxima do mar e inseriu nova tipologia arquitetônica ao Comércio. O próprio aspecto urbano do bairro é uma prova disso.
Na área que foi aterrada a partir do governo Seabra dá para notar prédios mais modernos, a exemplo do Instituto do Cacau e do edifício dos Correios. As ruas também são mais largas e retas em comparação às que ficam próximas à encosta que abriga o Elevador Lacerda - estas mais estreitas e tortuosas.
Em 2009, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou o tombamento de parte da área do Comércio a fim de possibilitar que sejam preservadas características importantes. O polígono de proteção do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico vai desde o quebra-mar da Capitania dos Portos até a região do Pilar, passando pelo Mercado Modelo e Cais do Ouro, limitando-se entre a Rua Miguel Calmon, Avenida Jequitaia e a encosta que separa a Cidade Baixa da Cidade Alta.
O Comércio foi o primeiro bairro de negócios organizado do país e teve protagonismo absoluto neste segmento dentro da própria cidade até a década de 1970, quando a capital baiana passou por um processo de descentralização com a criação do Centro Administrativo da Bahia (CAB) e expansão da região do Iguatemi e Avenida Tancredo Neves.
Contudo, ainda nos tempos atuais, o local sintetiza bem a essência de Salvador, misturando ares de modernidade com edifícios que se tornaram marcos da arquitetura moderna, mas também resguardando história, patrimônio e fé, com espaços públicos, monumentos, casarões e igrejas centenárias.
Exposição
A exposição sobre aterros que culminaram na criação do Comércio pode ser encontrada no primeiro andar da Casa das Histórias de Salvador (CHS). Sob a curadoria do arquiteto e urbanista Nivaldo Andrade, a mostra traz textos e fotografias que retratam os avanços do desenvolvimento da cidade sobre as águas de Kirimurê (grande mar interior), nome original da Baía de Todos-os-Santos dado pelos tupinambás antes da chegada dos portugueses.
Do acervo, um dos registros que mais chamam atenção é um mapa bastante didático sobre os oito ciclos de aterros feitos no Comércio com base nos estudos feitos por Marcus Paraguassu. O próprio casarão que abriga o espaço cultural, aliás, entra no contexto das transformações urbanas feitas ao longo desse processo.
"Acho muito importante a CHS ter um espaço para contar a história do bairro no qual ela se encontra, a partir do imóvel que a abriga. Isso traz informações pouco conhecidas - como o fato de que a maior parte do que hoje é o Comércio era mar - para um público amplo”, destaca Nivaldo Andrade.
"Quando construído entre 1860 e 1870, o edifício da Casa das Histórias ficava situado à margem da baía, ao longo do antigo cais. Hoje, pelos sucessivos trechos aterrados, está mais distante das águas, mas ainda assim guarda a memória da metamorfose urbana e do patrimônio cultural do Comércio", acrescenta.
Texto: Thiago Souza / Secom PMS
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